Caso Ana Sophia: o que se sabe 8 meses depois do sumiço da menina
Menina de 8 anos desapareceu em julho do ano passado. Principal suspeito teria cometido suicídio e corpo da criança nunca foi encontrado
Por Madu Toledo
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Desaparecida desde julho do ano passado, Ana Sophia, de 8 anos, foi vista pela última vez na cidade de Bananeiras, no brejo da Paraíba, quando saiu para brincar na casa de uma amiga.
A coluna True Crime de O Globo, do jornalista Ulisses Campbell, revela uma série de reviravoltas e intrigas familiares no mistério que ainda não tem uma resposta: onde está Ana Sophia?
No dia 4 de julho de 2023, Ana Sophia caminhou por 1,1 km durante cerca de 20 minutos, em direção a casa da amiga Emilly, de 9 anos. Entretanto, ao chegar no local, descobriu que a amiguinha estava de saída com a mãe – elas iam fazer compras em uma cidade vizinha.
De acordo com imagens de uma câmera de segurança, Ana Sophia não chegou a entrar na casa e cerca de um minuto depois iniciou o trajeto da ida, dando a entender que voltava para casa.
Trajeto feito por Ana Sophia no dia do desaparecimento
Trajeto feito por Ana Sophia no dia do desaparecimento
No caminho, a menina percorreu a rua Miguel Paulino Maia, uma das mais movimentadas do município rural. Através da análise das imagens de duas câmeras instaladas em comércios, a cerca de 350 metros de distância uma da outra, a polícia concluiu que Ana Sophia desapareceu justamente neste trecho do trajeto, dois minutos depois de sair da casa de Emilly.
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Diferentes câmeras de segurança mostram Ana Sophia nos últimos momentos em que ela foi vista
A Secretaria da Segurança e da Defesa Social da Paraíba (Sesds-PB) foi responsável por montar uma força-tarefa para a busca da menina. Mais de 100 policiais civis, militares e bombeiros foram mobilizados para a operação. Até mesmo uma barragem inteira foi esvaziada na tentativa de encontrar Ana Sophia.
Principal suspeito
Pelo menos 10 investigadores refizeram os passos da garota e bateram de porta em porta para tentar saber em qual casa ela poderia ter entrado. Durante a varredura, os policiais encontraram uma terceira câmera de segurança que teria registrado o momento em que Ana Sophia entra na residência do casal Tiago Fontes Silva da Rocha, porteiro de 34 anos, e Zilda Fernandes Silva da Rocha, professora de 39.
Apesar de negarem que a menina tenha entrado na casa, a polícia garante que a pessoa filmada é, de fato, Ana Sophia. Com isso, o caso foi considerado encerrado na seguinte narrativa: Tiago estava sozinho em casa, viu Ana Sophia passar pela rua desacompanhada na hora do almoço e a chamou para entrar. Essa cena não tem qualquer testemunha.
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A imagem que mostraria Ana Sophia entrando na casa de Tiago
Dentro da casa, ele teria violentado a garota sexualmente, matando-a em seguida — ainda não se sabe como. Por fim, Tiago colocou o corpo da vítima no porta-malas do carro, um Fiat Argo, e o levou para desová-lo em local jamais encontrado.
A perícia descobriu, nos computadores do porteiro, pesquisas sobre “genitálias de crianças” e “como desmembrar corpo de crianças”, “como dissolver ossos em ácidos” e “como destruir cadáveres usando fogo”.
Para a polícia há outras evidências que incriminam o homem. Tiago costumava andar de moto e, no dia do desaparecimento de Ana Sophia, decidiu usar o carro. Na narrativa da polícia, isso facilitou a retirada do corpo da menina da casa do suspeito pela porta da sala da casa.
Além do vídeo mostrando Ana Sophia entrando na casa, não foram encontrados qualquer vestígio que comprove que a menina realmente esteve no local. De acordo com laudo policial, não foi encontrado sequer um fio de cabelo da garota, nem impressões digitais dela na casa, nem no carro dele. A filha mais velha de Tiago estava em casa no momento em que a menina teria entrado e também disse não ter visto Ana Sophia.
Entretanto, Tiago não teve a chance de ser surpreendido com a sua prisão temporária, que seria decretada durante o segundo depoimento do suspeito, ao qual o homem não compareceu. Considerado foragido da polícia, dois meses depois ele foi encontrado sem vida suspenso por uma corda amarrada ao pescoço, sugerindo morte por suicídio. O corpo estava em avançado nível de decomposição. A foto do cadáver chamou a atenção porque seus pés tocavam no chão.
Tiago Fontes Silva da Rocha: para a polícia, o autor do crime
Tiago Fontes Silva da Rocha: para a polícia, o autor do crime
Zilda, esposa de Tiago, e dona Socorro, mãe de Ana Sophia, acusam a polícia da Paraíba de “montarem” uma versão “à força” para esclarecer o desaparecimento de Ana Sophia “a todo custo”.
O delegado Pablo se defende pontuando que as duas sentem dores muito fortes por perdas recentes e impactantes e vê o mistério como solucionado. “Uma perdeu a filha. A outra perdeu o marido. Eu entendo a negação de ambas. Mas, infelizmente, não resta a menor dúvida que Tiago matou Ana Sophia, deu fim do corpo e depois se matou levando com ele um grande segredo: onde está o corpo da vítima”.
Falhas no inquérito
Algumas possíveis falhas no inquérito policial reforçam os argumentos de quem critica as investigações. Dentre elas, o fato de que o depoimento de outras duas filhas de Dono Socorro e irmãs de Ana Sophia, tem texto idêntico, apesar das jovens terem comparecido à delegacia em horários diferentes, o que sugere um copia/cola, mudando apenas o nome da depoente e a hora do interrogatório.
“Elas foram à delegacia e disseram exatamente a mesma coisa. Não mudou nada. Por isso os depoimentos têm o mesmo texto”, justificou o delegado Pablo, que ouviu as duas irmãs.
Outra queixa feita por parentes de Ana Sophia é que uma das irmãs da menina, menor de idade, teve o depoimento colhido sem a presença dos pais ou de responsáveis. Sobre o questionamento, a polícia paraibana não se manifestou.